Professor Ricardo Engelbert
A crise econômica gera um paradoxo no ecossistema do empreendedorismo brasileiro. Ao mesmo tempo em que assusta os empreendedores quanto à viabilidade de seus projetos, pela baixa expectativa de retorno e ampliação de riscos de mercado, a crise também leva mais pessoas a empreenderem, por força da redução de oferta de emprego.
As oportunidades de investimento em projetos empreendedores representam um desafio complexo para a análise e tomada de decisão, e a melhor alternativa para aproveitá-las é investir em grupo.
As redes de investidores-anjos, formadas por pessoas físicas que aportam seu próprio capital em empresas nascentes e com alto potencial de crescimento, têm como atributos diluir riscos, expandir contatos e concentrar experiências em torno desses projetos. Além de compartilhar experiências entre os investidores, possibilitam a construção de portfólios diversificados. Essa diversificação, porém, deve ser equilibrada com a recomendação de se investir em projetos nos quais o investidor-anjo conheça o mercado ou o tipo de operação necessária.
O candidato a investidor-anjo deve avaliar suas reais motivações. Se o objetivo é puramente o retorno financeiro, e sem muito envolvimento pessoal, existem alternativas que garantem retornos razoáveis e com muito menor risco. Se a motivação envolve uma certa dose de realização pessoal, e considera a possibilidade de aportar conhecimento, experiência e contatos, aí estamos chegando mais próximo do papel do investidor-anjo em um projeto empreendedor. Esta participação pode ainda incluir motivações ainda mais nobres, onde os projetos de investimento possam contribuir para a sociedade como um todo, indo além do retorno financeiro e da realização pessoal. Assim, o investimento-anjo configura-se como uma importante plataforma de desenvolvimento do País.
Infelizmente, além da crise que vivemos, a conjuntura brasileira apresenta uma série de barreiras ao investimento-anjo. Temos, culturalmente, grande aversão ao risco e ao fracasso. As ofertas de remuneração de baixo risco, com altas taxas de juros, oferecem alternativas interessantes para o capital. Nosso mercado de ações ainda engatinha e não tem penetração entre os poupadores. Além disso, nossos empreendedores e empresários preferem alternativas de financiamento por meio do crédito bancário e dívida, em detrimento às opções de participação societária.
Outra grande barreira desse tipo de investimento é a jurídico-legal. Apesar dos instrumentos legais que isolam o empreendimento dos seus sócios, como é o caso das sociedades de responsabilidade limitada, um investidor não está totalmente livre de problemas de responsabilidade civil, fiscal e trabalhistas. Um funcionário do empreendimento, por exemplo, pode incluí-lo de forma solidária em um processo de cobrança na justiça do trabalho e assim ter seus bens pessoais utilizados para quitar essa dívida.
Mais uma vez, as redes e a constituição de fundos configuram-se como formas de reduzir riscos legais e isolar os investimentos. Mesmo com uma conjuntura adversa, o investidor que se sentir motivado a aproveitar as oportunidades criativas, que surgem durante a crise, deve considerar a opção de aderir a uma rede de investidores, em crescimento no país. Nessa ascensão, as redes também podem se configurar como uma voz mais representativa, para influenciar mudanças nas políticas de governo e de instituições relacionadas a projetos de investimento em empreendedorismo no Brasil.
Ricardo Engelbert é professor do Departamento de Empreendedorismo e Inovação do ISE Business School.